Pra começar, como já disse quando comentei o filme baseado no livro aqui, não gosto deste título As aventuras de Pi. Na verdade, quando lançado em 2001, o livro no Brasil tinha recebido o mesmo título do original: A vida de Pi, que eu acho muito melhor do que esse título com cara de aventura infantil. De qualquer forma, nem isso conseguiu tirar o meu encantamento com o livro de Yann Martel - mesmo que eu tenha riscado todos os As aventuras de Pi do livro e substituído por A vida de Pi.
A primeira vez que ouvi falar dele, foi quando começou a discussão sobre o livro de Yann Martel ser ou não um plágio do livro Max e os felinos, de Moacyr Scliar. Sobre o assunto, o próprio escritor gaúcho falou de forma muito elegante - veja aqui. Essa história toda me criou certa resistência inicial diante do livro mas, depois do filme, quis muito ver como era história de Pi no papel. E me apaixonei pelo livro tão intensamente como me apaixonei pelo filme!
Bom, Pi - Piscine Molitor - Patel é um rapazinho indiano que cresce em um zoológico e que, desde muito pequeno, se interessa por religiões tão diversas quanto o hinduísmo, o cristianismo - catolicismo, basicamente - e o islamismo. Quando está com 16 anos, depois de um acidente com o cargueiro no qual viaja com a família e vários animais do zoológico de mudança para o Canadá, Pi se vê sozinho em um bote salva-vidas com uma hiena, uma zebra e um orangotango - que logo morrem - e um tigre, Richard Parker, que será seu único companheiro ao longo dos quase 300 dias perdido no Oceano Pacífico.
Ler livros e ver filmes, nesta ordem, sempre costuma me trazer um gostinho de decepção. Hoje em dia até controlo melhor, principalmente depois de aprender que uma adaptação não precisa exatamente ser a transposição pras telas do livro, e que, para funcionar, algumas coisas serão modificadas, omitidas ou acrescidas.
No entanto, com Pi, em momento algum eu senti falta no filme de Ang Lee do que foi escrito por Martel e omitido, ou achei que o que ali estava - e que não está no livro - ficou "sobrando".
Referente à história, pouca coisa é diferente em um e em outro. A maior diferença, pra mim foi a crueza como Yann Martel descreve várias coisas que, no filme, até para uma "digestão" mais fácil pelo público, foram aliviadas. Como, por exemplo, a morte de um dos animais já no bote salva-vidas ou o que Pi teve que fazer para sobreviver.
O meu único porém seria para um tempo que Pi fica em uma ilha flutuante que encontra no meio do Pacífico: no filme ele fica apenas um dia e, uma das poucas críticas que ouvi de quem viu o filme foi que as cenas na ilha pareceram deslocadas e rápidas demais. No livro, Pi fica vários dias por lá e, por isso, nada parece fora de propósito ou rápido demais, além de que, o que ali acontece, é melhor explicado.
E Yann Martel escreve de um jeito delicioso! Como o livro é todo narrado na primeira pessoa - em parte pelo escritor que conhece Pi e, na maior parte, pelo próprio Pi - não tem como não nos sentirmos próximos dele, chorar com suas desventuras, se emocionar com seus sucessos, querer bem a Richard Parker como ele passa a querer!
A crueza que citei alguns parágrafos atrás me fez pular alguns parágrafos - porque eu sou aquele tipo de gente que fecha os olhos e tapa os ouvidos quando vê, na vida real ou no cinema, alguma cena mais violenta.
Muito comentada também é o papel forte da religião em toda a história, já que é o que guia e sustenta Pi em seus dias de náufrago. Martel defende a fé na história? Não sei. Mas Pi a defende. Para mim, que tenho uma religião, muito da beleza da história está na relação de Pi com Deus e com as religiões que professa.
É complicado para um cético ou ateu ler o livro?
Não deveria ser, porque há muito mais aqui do que a questão religiosa.
Enfim, vale a pena ler o livro?
Muito! Depois da decepção com A casa das orquídeas, foi ótimo ler algo tão inspirador, bem escrito e apaixonante!!
Título original: Life of Pi
Autor: Yann Martel
Editora: Nova Fronteira
Edição: 1ª (com este título)
Ano: 2012
Comentários
Postar um comentário